Wednesday, November 12, 2008

[EUA] O império está perdendo seu controle: uma entrevista com Joaquin Cienfuegos

[EUA] O império está perdendo seu controle: uma entrevista com Joaquin Cienfuegos

[Joaquin Cienfuegos, 25 anos, é um Chicano, militante anarquista de longa data, membro do Revolutionary Autonomous Communities (Comunidades Autônomas Revolucionárias - RAC), Cop Watch de Los Angeles, Anarchist People of Color (Pessoas de Cor Anarquistas - APOC), e um dos organizadores da primeira e anual Feira de Livros Anarquistas de Los Angeles, na qual irá acontecer em 13 de dezembro de 2008. A entrevista a seguir foi conduzida pelo companheiro estadunidense Chuck Morse com o Cienfuegos, que nela fala sobre seus recentes conflitos judiciais e seu ativismo em geral nos Estados Unidos.]

Pode nos falar sobre sua prisão em julho e sobre em que pé anda seu caso no momento?

Em 27 de junho, a polícia encostou o carro que eu estava dirigindo enquanto dava uma carona para um companheiro até sua casa. Eles vasculharam meu porta-malas e encontram folhetos do Festival de Solidariedade de Verão referentes aos 3 Cavaleiros Negros (três prisioneiros políticos detidos sob uma conspiração arquitetada e acusados de porte de armas), e então arrancaram uma caixa preta segurando meu AR-15 legalmente obtido. Eles imediatamente me levaram sob custódia e me acusaram por posse ilegal de um rifle de assalto.

Esta não foi a primeira vez que eu tive de lidar com repressões políticas ou com achaque policial. Esses tipos de coisas são bem comuns para um Chicano que cresceu nas novas-colônias de Fresno e no Sul de Los Angeles. Com certeza, o Estado quer ter monopólio sobre as armas e a violência, e enxerga todo mundo em nossa comunidade como criminosos. Essa é a razão pela qual eles se relacionam com nós da maneira que eles fazem, e não hesitam em matar pessoas inocentes em nossas vizinhanças.

Estou lutando no meu caso. Meu próximo dia no tribunal é 6 de novembro. Guillermo Suarez, um advogado de direitos civis radical, está me representando. E pessoas no movimento em geral, e anarquista ao redor do mundo em particular, têm apoiado a mim, à minha família e à minha organização.

O que as pessoas podem fazer para te apoiar?

Qualquer apoio é muito bem vindo. Fui afiançado graças à ajuda das pessoas, meus amigo/as e companheiro/as, e nós queremos devolver esse dinheiro para ele/as. Temos um sítio na internet onde as pessoas podem contribuir: www.diyzine.com/freejoaquin.

Também, o Comunidades Autônomas Revolucionárias (RAC), juntamente com o Pessoas Negras Anarquistas (APOC), estão construindo um fundo de defesa, então estaremos preparados para quando alguma coisa como estas acontecerem novamente no futuro. Sabemos que esta não é a primeira nem a última vez que haverá repressão política.

Você é ativo em um vasto leque de atividades locais. Por favor, nos fale um pouco sobre isso.

Estou envolvido no Cop Watch de Los Angeles por quase já três anos. Nós viemos da Coalização STOP (Fim ao Terrorismo e Opressão da Polícia), da Sede Local de Los Angeles da Federação Anarquista do Sul da Califórnia (SCAF), da Rede de Ação Direta Levante o Punho, e da juventude envolvida na defesa do Jardim Comunitário do Sul de Los Angeles.

Cop Watch é uma tática e um braço de um largo e multifacetado movimento, com diversas estratégias. É um caminho para as pessoas começarem a resistir, fazer ações diretas, combater o terrorismo de estado, e construir comunidades autônomas e liberadas. Especificamente, toda semana um grupo organizado de três a cinco pessoas patrulha, com câmeras, as vizinhanças nas quais vivem. Cada um tem um papel na patrulha (como, por exemplo, um toma notas, outro fica com a primeira câmera, outro com a segunda câmera, outro fica responsável com a coordenação policial, outro com a conexão com a comunidade). Encorajamos as pessoas para dar uma conferida no nosso sítio da internet: www.copwatchla.org.

Sou um membro do Guerrilha Clube do Cop Watch de Los Angeles, no qual é formado por indivíduos vindos de diferentes comunidades que se comprometeram a construir um movimento massivo contra o terrorismo policial. Este é um dos programas comunitários do Comunidades Autônomas Revolucionárias (RAC). O RAC foi formado após o SCAF de Los Angeles ter se dispersado pela juventude de cor da classe trabalhadora que continua a coletivamente lutar por uma organização, visão e estratégia revolucionária. Somos uma federação horizontal de pessoas indígenas (pessoas de cor) vivendo em novas-colônias, que acreditam que precisamos criar nossa própria visão das coisas e voltar para nossas raízes, onde sentimos que o anarquismo e/ou anarco-comunismo já são vividos. Então, nós absorvemos um monte dos princípios anarquistas, zapatistas e magonistas, e ao mesmo tempo nós queremos criar algo que seja relevante para nossas próprias condições e experiências únicas.

O RAC tem também criado um programa de alimentação no Parque McArthur, em Pico Union. Durante todos os domingos do ano passado, o RAC e apoiadore/as têm alimentado cerca de 200 pessoas. Recebemos doações de comida, e as pessoas ensacam e distribuem frutas e vegetais saudáveis. Recebemos doações financeira, então cada pessoa pode pegar sua sacola de feijão toda semana. Isto cresceu graças às idéias das pessoas que tomaram a posse do programa. Nossa meta é conectar essa história com a luta mais ampla pela terra e liberdade. O RAC começou o programa de alimentação após a repressão que houve na marcha dos direitos dos imigrantes no Primeiro de Maio de 2007, para construir uma base de apoio e estabelecer confiança mútua. Estamos fazendo isso numa comunidade em que a polícia, após a rebelião de 1992 em Los Angeles, descreveu dessa forma: “Se isto foi uma insurreição, Pico Union seria considerado território inimigo”. Esta é uma comunidade que tem sido aterrorizada pela polícia, mas também é uma comunidade que conta com experiências de rebelião e guerra civil na América Central, e tem um ódio pelo imperialismo estadunidense. Sentimos que o programa de alimentação e o Cop Watch de Los Angeles estão somente começando. Esperamos espalhar esses programas e apoiar outros que desejam fazer o mesmo.

O RAC também produziu um filme chamado “Nós Ainda Estamos Aqui e Nunca Sairemos”, no qual expõem a repressão policial de Primeiro de Maio de 2007. Realmente queremos que as pessoas o vejam. Para obter uma cópia ou fazer uma exibição/discussão do filme, por favor, escreva para: rac@riseup.net.

Também faço parte do coletivo que está organizando a primeira e anual Feira de Livros Anarquistas de Los Angeles, a ser realizada em 13 de dezembro de 2008, na qual ajudará a levantar um dinheiro para o nosso fundo de defesa e para o encontro regional do APOC do Sudoeste. Para mais informações, visite: www.anarchistbookfair.com.

Também faço parte do APOC, na qual está crescendo e se tornando uma rede viva, e tem o potencial para crescer em um movimento revolucionário e se tornar uma força intercomunalista dentro do império e além dele. Recentemente, estão acontecendo encontros regionais e locais do Pessoas de Cor Anarquistas (APOC) para construir um encontro inter-regional. Também temos discutido sobre o que significa o APOC e como isso não sustenta somente o Pessoas de Cor Anarquistas, mas também o Pessoas de Cor Raivosas e Autônomas, e portanto temos discutido sobre como todas essas coisas são únicas e tem suas próprias definições. Dêem uma olhada: www.illvox.org.

Em sua opinião, quais são os maiores desafios que o movimento anarquista tem que encarar neste exato momento?

Muito/as anarquistas se focam no trabalho de solidariedade, que é uma parte do apoio à revolução por todo o mundo, mas temos que nos mover para além da solidariedade e redefinir o que isto significa. Solidariedade significa que nós lutamos ao lado de companheiro/as e pessoas oprimidas em todos os lugares, que construímos o processo revolucionário dentro do império, enquanto compartilhamos umas com as outras todos os recursos que tivermos. Nos Estados Unidos, o/as anarquistas têm que começar a assegurar a responsabilidade um com os outros, assim como desafiar os privilégios entre si. Temos que começar a irromper de nossa sub-cultura. Como revolucionário/as temos que nos integrar em nossas comunidades e plantar raízes profundas entre as pessoas; temos que nos dar conta de que nossos princípios e idéias têm que ser popularizadas entre as pessoas, então elas podem levantá-las e realizá-las por si próprias. Temos muito mais coisas a aprender do que temos para ensinar, e nem todo mundo irá se identificar como um/a anarquista. Anarquistas dentro do império têm que perceber que há muito privilégio aqui, mas também existe o que Huey Newton chamou de terceiro-mundo-interior – pessoas colonizadas lutando dentro do império – e sua autonomia e autodeterminação devem ser apoiadas.

Finalmente, se todos os seus maiores sonhos e expectativas para o movimento fossem se tornar realidade em, vamos dizer, vinte anos, o que então o movimento seria? Se pareceria com o que?

Penso que há duas partes para esta questão: onde as pessoas estariam daqui a vinte anos e onde o sistema de imperialismo-capitalista, supremacia branca, e patriarcal estaria por estes tempos?

Posso responder a segunda parte rapidamente, porque não penso que o sistema durará muito tempo. O império está perdendo seu controle sobre o mundo e sobre as novas-colônias, e as pessoas irão se libertar destas horríveis formas de vida. Com certeza nada é certo, mas nós temos de fazer o trabalho. Minha visão de comunas liberadas seria de pessoas vivendo suas vidas e realizando seus potenciais humanos integralmente; onde vivemos em harmonia com o planeta e todos os seres; onde uma federação de comunas compartilha os recursos, a comida, as idéias, e outras coisas umas com as outras, onde as pessoas estão reconstruindo e se curando de anos de relações sociais opressivas e seus efeitos sobre nós e sobre a Terra; onde a tecnologia seja usada sem destruir as pessoas e o meio ambiente. Em vinte anos, as fronteiras começariam a cair por terra, e a rebelião libertará as pessoas e suas terras. Sonho com este mundo todos os dias, onde a opressão sofrida por causa da cor de sua pele, sua classe, seu gênero, sua sexualidade, e por aí vai, não sejam toleradas e onde as pessoas compreendam que elas têm o poder de lidar com todos estes problemas por si mesmas. Talvez o mundo não se apresente desta maneira dentro de vinte anos, mas sei que estaremos mais pertos desta realidade do que estamos agora. Este mundo é possível. Este mundo é necessário.

Tradução > Marcelo Yokoi

agência de notícias anarquistas-ana

Hermética música
há no silêncio da lágrima
que salga o mar.


Fred Matos


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